quarta-feira, 29 de julho de 2009

Todas as rodas

Eu ainda não perdi o medo de dirigir carros. Ainda assim, vou tirar também minha habilitação para dirigir motos.
Já que é para perder o medo, tem que ser geral. Recentemente ganhei uma bicicleta para três pessoas. Achei um sinal.
Carro, moto, bike. Quem sabe ano que vem não estarei pilotando avião?

Muitas coisas estão acontecendo fora e dentro de mim desde que retomei as aulas de volante. Lembranças, sonhos, imagens. Coisa engraçada essa de a vida nunca ser igual, nunca parar, nunca ter medo de ir. A gente é que estaciona, mas quando resolve seguir o fluxo, que paisagem!

No início desta semana, encontrei um primo, meu melhor amigo de infância, que não via há muitos anos. Sem saber de minha história, ele perguntou ao acaso: “você está dirigindo muito?”. Eu não entendi bem a pergunta. Enquanto pensava a respeito do “muito”, ele emendou: “lembro-me que você adorava dirigir. Você queria pegar o carro em qualquer ocasião. Lembra-se daquela vez na praia?”

Não lembrava, mas a imagem veio com a frase dele. Estávamos só nós dois, véspera de Natal. Era época que ainda não existia trânsito, coisa de 15 anos atrás. Então descemos a serra, nadamos, conversamos e eu dirigi por muito tempo em ruas desertas.

Que lembrança perturbadora. E feliz. Se eu inventei meu medo, posso desinventá-lo. É isso que estou fazendo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

10 coisas para fazer depois de perder o medo de guiar

Depois de passar no exame prático do Detran – e reviver o otimismo contagiante de quando aceitei o desafio proposto pelo site WebMotors e Clínica Escola Cecília Bellina –, pressinto que “aquilo” que me distanciou do volante por tantos anos voltou a me rondar. Minha próxima aula prática está agendada para amanhã, mas já faltei a duas seções de terapia, forte aliada às aulas de volante. Isso é um (mau) sinal.

Desde que a série “Coragem de Dirigir” começou, dezenas de internautas nos escrevem sobre as limitações que vivenciam diariamente por ter medo de guiar. A maioria deles imagina, por exemplo, como seria prático poder levar os filhos à escola, ir ao supermercado sozinho ou não se submeter, todos os dias, ao péssimo transporte público. Também eu tinha interesses parecidos, mas o meu medo os tem, como quem come um saco de pipocas no cinema, devorado um a um. Acho que preciso de algo mais substancial, verdadeiro, denso a ponto de entalar na garganta do maior dos pânicos.

Estou em busca de minha mais profunda motivação agora. Não é um exercício fácil, mas é surpreendente. Capaz que você comece sendo uma pessoa e, ao final, descubra-se outra. Aviso: é um exercício que exigirá de você despir-se de desculpas, de máscaras, de coisas que a você nem imagina que tem. Meu esforço rendeu uma lista imensa. Publiquei apenas o publicável. Divido com você minhas 10 primeiras motivações:

Tomar para mim, no trânsito, o espaço que é meu, sem medo de imperfeições. Tal como quando caminho na calçada: espontânea e naturalmente. Não é aceitar um lugar como quem recebe uma doação. Ninguém pode nos dar o que já é nosso de direito. É tomar.

Ter um Land Rover Defender.

Em noite de garoa fria, colocar no carro um cachorro abandonado. Desde que o meu morreu por omissão de socorro (ninguém queria sujar o banco com um animal ensanguentado), tenho sonhado com essa adoção.

Dirigir, do lado direito, entre vacas e elefantes na Índia. Ir do Taj Mahal aos pés do Himalaia, parando de templo em templo, e, de tempo em tempo, surpreender-me com aquilo que já não preciso ser.

Candidatar-me para buscar, no aeroporto, alguém que amo profundamente. E, com o amor que inunda essa profundidade, ser seu chofer por tantos dias e lugares quanto ele quisesse.

Usar saia curta e salto alto em dia frio.

Levar meus parentes mais tímidos para um passeio de perplexidades. Talvez um céu estrelado de interior, a gente deitado na grama só assistindo.

Assistir à ultima seção de cinema.

Ir à praia segunda-feira à noite. Ver o mar e voltar.

Dirigir na estrada no exato instante em que se espanta com o mistério de estar vivo. Vidros abertos, vento levando os cabelos para trás assim como a maré empurra ondas para frente. No CD, a música: “Ando devagar porque já tive pressa/E levo esse sorriso porque já chorei demais/Cada um de nós compõe a sua história,/Cada ser em si carrega o dom de ser capaz/De ser feliz...”


E você, quais itens estariam na sua lista?

Instrutores e examinadores de trânsito farão exames de avaliação

Brasília - Instrutores e examinadores de trânsito no exercício da função serão obrigados a prestar exame de avaliação a cada três anos. A Resolução nº 321 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) está no Diário Oficial da União de hoje (22) e vale para todo o território nacional. O Contran acatou proposta da Associação Nacional dos Departamentos Estaduais de Trânsito e do Distrito Federal e espera, com isso, melhorar a qualidade do ensino nos centros de formação de condutores.

Os exames serão promovidos e coordenados pelo Denatran, a cada três anos, contados da data da primeira prova. A aplicação dos exames ficará a cargo dos estados e do Distrito Federal, segundo as determinações do Denatran. Os profissionais que não atingirem nota igual ou superior a 70 serão suspensos do exercício da atividade e submetidos à requalificação.

A retomada da atividade estará sujeita à apresentação ao órgão de trânsito do estado do certificado de participação no curso de requalificação. O Denatran editará as instruções necessárias para o cumprimento da resolução.','').

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dia de exame prático: desfecho

O tempo é relativo. Nunca isso me pareceu tão verdadeiro como hoje, enquanto esperava minha vez para realizar o exame prático do DETRAN.

Na fila, eu estava meio zonza, alheia. Perdi o sono às três da manhã e, em vez de contar carneirinhos, repassei na mente o percurso da prova, seta por seta, até conseguir dormir novamente. Não estava confiante. Não sei se, no local da prova, isso é possível para um ser humano normal (e que quer passar honestamente).

Para minimizar minha insegurança, meu instrutor permitiu que eu transformasse o carro em algo pessoal. Jonas é treinado para ensinar pessoas com medo de dirigir e sabe bem o que fazer em momentos de grande tensão. Ele teve o cuidado de tirar o tapete, que já havia enroscado no pedal da embreagem uma vez. De minha parte, coloquei no porta-treco objetos que me transmitem segurança: uma foto do mestre hindu Sai Baba, uma imagem de Ganesha e outra de Santa Sara. Todos eles ali, juntos, torcendo por mim.

Entrei no carro. Fiquei sozinha por alguns minutos. Interminavelmente depois, uma examinadora se sentou ao meu lado. Na hora, achei azar o meu que fosse uma mulher, mas mudei de ideia depois. Explico por quê.

Ela disse “bom dia”, o que pareceu um bom sinal. E emendou um: “nossa, que frio”. Entretanto, fez jus à fama dos examinadores na forma como reagiu a minha interação. “Estou tão nervosa que não sinto frio”, respondi. Ela me ignorou.

“Eu já arrumei os espelhos”, disse para evitar uma encenação. Ela, muda. Enquanto checava a documentação, acabei atropelando o processo. “Posso sair?”, perguntei. Ela me olhou com surpresa de indignação. Corrigi: “ah, não. Você ainda nem colocou os cintos”. Não tinha como piorar. Ela suspirou e deu o comando: “pode ir”.

O roteiro foi: 1. Arrumar postura no banco. 2. colocar o cinto. 3. ligar o carro. 4. ligar a seta. 5 engatar primeira. 6. olhar no retrovisor. 7. soltar o freio de mão. 8. sair. Tudo certo até aí.

“Faça a baliza branca”, foi o segundo comanda dela. Imediatamente, seta para a direita. Insegura, apontei: “aquela ali?” Ela: “você está vendo outra?”. Síndrome do pequeno poder, pensei. Deve ser um dos poucos momentos do dia em que ela pode falar assim com uma pessoa contando que não será afrontada. E deve ser o único momento da vida em que tenho a oportunidade de simplesmente não retrucar uma grosseria. Que paz.

Enquanto fazia a primeira manobra da baliza, ela pegou a foto do Sai Baba. Deve ter estranhado, sei lá. Só sei que, enquanto olhava, ela ficou bem na frente do retrovisor lateral, quase não consegui calcular o ponto certo. Eu tentei de novo: “Já tinha visto Sai Baba antes?”. Ela me ignorou e devolveu a foto no porta-treco.

Acho que me desconcentrei um pouco com a cena. Quando fazia uma bobagem qualquer no volante, senti o olhar de interrogação. O lado positivo de uma mulher ser examinada por outra mulher é que somos especialistas em leitura de face sem sequer precisar virar o rosto. Me concentrei, acertei o volante e terminei a baliza.

Para meu horror, ela não abriu a porta do carro para ver quão perto ou longe eu fiquei. Disse apenas: “Pode sair”.

Fiquei muda, sem saber ao certo o que aquilo queria dizer. “Achei que tivesse cometido o pior dos erros da baliza. Quando me preparava para desligar o carro e sair, ela emendou: “pode sair com o carro”. Ufa!

Bom, depois da baliza, me senti muito segura. Errei apenas uma seta, sinalizado no ato por ela e que me ajudou a não esquecer as demais.

Ainda não acredito que passei. Estou anestesiada de felicidade, principalmente porque recebi abraços sinceros de pessoas que acompanham minha saga desde o início.

E você? Por que não vai? Por que você não arrisca? Por que você não experimenta essa felicidade também? Acredite, se eu consegui, você também consegue.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prática de véspera de exame prático

Além do suco de maracujá, de óleo essencial de lavanda no assoalho, grãos de mostarda no porta-trecos, (veja mais abaixo por que) vou praticar hoje uma meditação chamada antar mouna (silêncio interior), que retirei do site do professor de Yoga Pedro Kupfer. O antar mouna tem 6 estágios, avisa o profesor. "Apresentamos aqui o primeiro deles, que pode fazer-se sozinho em total segurança". Parece perfeito para mim

"(...) usamos uma técnica para criar silêncio interior. Esse silêncio interior nos ajuda a eliminar os obstáculos dos ruídos exteriores. Assim, podemos praticar sem precisar nos mudar para o gelo eterno dos Himalaias. Onde, por sinal, o vento e a água que descem dos glaciares fazem um barulho ensurdecedor. Antar mouna significa silêncio interior. É uma das práticas mais importantes do Yoga, pois trabalha diretamente com o diálogo mental. É uma ótima maneira de começar a meditar, pois, ao invés de ficar lutando com a mente, você apenas a observa. É uma técnica excelente para quem não consegue ainda concentrar-se nos objetos de meditação, como símbolos psíquicos ou visualizações, por simples que sejam.

Porém, o antar mouna é muito mais do que isso. Pode ser o atalho mais curto (e às vezes violento) para abrir as portas do subconsciente. Ao longo das diversas fases do antar mouna, começam a surgir lembranças, experiências, sentimentos ou pensamentos reprimidos e esquecidos, mas nem sempre resolvidos. Essas latências subconscientes, chamadas samskáras, determinam as nossas atitudes, formas de pensar e agir. São obstáculos poderosos que barram a evolução e a felicidade: tentar controlá-las eqüivaleria a tentar controlar uma intoxicação alimentar.

Da mesma forma que um alimento inadequado envenena o organismo, os samskáras poluem a psique. Toda lembrança, pensamento ou sentimento pode servir para o conhecimento ou para a ignorância.

O antar mouna nos ensina a eliminar o conflito interior causado pelos samskáras e o diálogo infernal da mente. Nos ensina a respeitar a mente e aceitar os seus conteúdos. Nos ensina a ver-nos como testemunha imparcial, aceitando as experiências e reações da mente e, posteriormente, aprendendo a controlá-la. Isso irá desenvolver a autoconsciência e a capacidade de se conhecer.

Lembranças, medos, pensamentos e sentimentos ocultos durante anos emergem um a um na superfície da consciência, se debilitam e desintegram. Em 90% dos casos, aparece o medo. O medo não é novo: acompanha o homem desde sempre e já se descreve na Taittriya Upanishad: “do medo, impulsionado pelo absoluto, o vento sopra. Do medo, o sol nasce. Pelo medo, o fogo queima e os sentidos sentem. Finalmente, pelo medo, a morte persegue o homem” (Brahmánandavalli, 8). Aqui, em forma simbólica, o autor está nos dando um recado muito claro: o medo pauta e determina todos os nossos pensamentos, as nossas decisões e ações.

Medo, em suas mais variadas formas: medo de não ser aceito pelos demais, medo da morte, medo do desconhecido. O processo de substituição dos samskáras ruins por seus opostos já aparece no Yoga Sútra (II:29,30) de Pátañjali: “quando surgirem pensamentos indesejáveis, estes podem ser vencidos convivendo-se com seus opostos. Os pensamentos indesejáveis, assim como os de agressão (...), são frutos da ignorância e sempre acabam em sofrimento infinito (por isso é necessário convivermos com seus opostos).” Este é um processo de purificação psíquica muito efetivo, chamado chitta shuddhi.

A psicoterapia, especialmente a Gestalt, procura fazer a mesma coisa. Mas, onde a psicoterapia diz: “agora que você identificou e desintegrou seus fantasmas, está pronto para ter uma vida mais feliz;” o Yoga diz: “agora você está pronto para ter uma vida mais feliz, e empreender a parte mais emocionante da aventura humana: meditar de verdade.” Por quê? Porque tanto os pensamentos bons quanto os ruins são igualmente ruins, obstáculos do mesmo tamanho que nos afastam do objetivo: “tudo provoca dor para o sábio, sejam as latências, as experiências ou suas conseqüências, ou a interação entre os estados da realidade (gunas). A dor que ainda não surgiu pode evitar-se.” Yoga Sútra, II:15-16.

O samskára é o conjunto das raízes profundas dos condicionamentos do ser, de caráter kármico e inato, que se estruturam em malhas subconscientes. Perpetua-se através das gerações por herança histórica, cultural ou étnica, afetando a todos os indivíduos.

Estamos condicionados a agir sempre em consonância com o samskára, que funciona como um modelo padrão de comportamento. J. Woodroffe dá o exemplo de uma tira de borracha que, embora possa assumir as mais diversas formas, sempre tenderá a retomar a original.

Os vásanás (lit., perfume) são as latências subconscientes. O cheiro que uma flor deixa em um pano é o vásaná dessa flor: mesmo depois de retirá-la, o perfume permanece. Os vásanás constituem um colossal obstáculo para o meditante, pois a vida subconsciente é um fluxo constante de impressões latentes que dão corpo aos vrittis. Estes, por sua vez, determinam as ações do indivíduo (karma) e assim entra-se num triângulo vicioso: os condicionamentos determinam os pensamentos, que determinam as ações, que reforçam os condicionamentos, que determinam os pensamentos, que provocam as ações, e assim por diante. Samskára -> vritti -> karma -> samskára -> vritti -> karma -> samskára...

Para poder atingir o estado de cessação das instabilidades da consciência (chittavritti nirodhah), objetivo do Yoga, é necessário aniquilar essas tendências através da capacidade de auto-observação. O alvo do antar mouna é observar o processo que alimenta o pensamento através dos sentidos e a atividade subconsciente (o samskára e os vásanás, que dão corpo à vida psico-mental).

Após haver traçado o perfil dessas latências, a técnica serve para fazer surgir os “pensamentos indesejáveis”, os vrittis de que falava Pátañjali. Em seguida, evocar as lembranças associadas a esses pensamentos e reviver as situações que as provocaram, esgotando-as e indo até o final delas, mantendo o tempo todo o estado da consciência testemunha (sakshi).

Isso produz uma purificação da consciência (chitta shuddhi) que culmina na inversão dos padrões de comportamento e nos condicionamentos que os originam. Reprogramar é substituir esses “pensamentos indesejáveis” pelos seus opostos, com ensina Pátañjali. Isolar a causa raiz do vritti, conhecer, observar, desenterrar, entender, limpar, reorganizar, substituir e, finalmente, esvaziar. Mudar a perspectiva emocional ou mental, transformando a sua significação. Não há nada definitivo: como diz o sábio, “isto também passará.”

Ou seja, conhecer o samskára, substituir as coisas ruins por outras boas e, posteriormente, eliminar também as boas. Depois disso, está-se preparado para que a meditação dê resultados a curtíssimo prazo. C. G. Jung disse que “ninguém se torna iluminado imaginando figuras de luz ou preenchendo a mente com concepções teosóficas, mas sim tornando e escuridão consciente,” levando luz para onde há trevas, iluminando as áreas escuras do ser. Removidos os obstáculos, a luz se revela. Resumindo, este processo de concentração passa pelos seguintes estágios:

1)observar,

2)acessar,

3)evocar,

4)reviver,

5)esgotar,

6)compreender,

7)purificar,

8)reprogramar,

9)esvaziar,

10) meditar.

Após a meditação, vêm ánanda, a bem-aventurança, o estado de felicidade inefável e profunda que dá o Yoga. Mas quanta felicidade?

“Imagine um homem de bem, jovem, forte, saudável e que possui toda a riqueza do mundo. Tome isso como uma unidade de felicidade humana (ánanda). Agora multiplique isso cem vezes. O resultado será a felicidade dos manushyagandharvas, e a daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso cem vezes e o resultado será equivalente a uma unidade da felicidade dos devagandharvas e daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso mais cem vezes e você terá a felicidade dos sábios e daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso cem vezes e terá a felicidade dos karmadevas, aqueles que alcançaram a dissolução através do domínio do karma.”

_________________________
Tempo: 25 a 35 minutos
Nível: básico
Sinopse: comece tomando consciência dos seus sentidos e como eles conectam você com o mundo exterior. Observe os sons do ambiente. Depois, contemple o som da sua respiração. Assim você desenvolve a capacidade de observar os pensamentos, sem identificar-se com eles. A mente pára de ser perturbada por distrações exteriores. Após praticar esta técnica algumas vezes, passe ao estágio II. Recomenda-se fazer antar mouna imediatamente após o pránáyáma, onde os conteúdos subconscientes vêm à tona.

Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Inspire profundamente e vocalize o mantra Om durante sete fôlegos: Om, Om, Om, Om, Om, Om, Om. Consciência total no seu corpo físico: no corpo inteiro e no ásana. Tome consciência da sua espinha dorsal, que está totalmente ereta, sustentando o pescoço e a cabeça. Tome consciência da posição equilibrada dos braços e pernas. Consciência total no seu corpo inteiro, dos pés à cabeça (1/2 minuto em silêncio).

Agora visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num espelho. Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado esquerdo. Por trás. Por cima. E então, de todos os lados ao mesmo tempo. Esteja consciente do corpo. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade.

Depois, imagine-se como se estivesse crescendo desde o chão. Como uma árvore. Suas pernas são as raízes da árvore. O resto do corpo é o tronco. Você está crescendo a partir do chão, fixando-se no chão. Absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Como se fosse uma árvore enorme e forte. Perceba-se, vivencie-se crescendo a partir do chão. Fixando-se no chão. Unindo-se com o chão. Você está absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio).

Tome consciência das sensações físicas que o seu corpo experimenta. Consciência total em todas as sensações físicas. Permita que estas sensações se transformem num foco para o seu pensamento. Consciência total.

Concientize-se das partes do corpo, começando pela cabeça. Visualize a sua cabeça e mantenha consciência total nela. Faça o mesmo com o pescoço. O ombro direito. O ombro esquerdo. O braço direito. O braço esquerdo. A mão direita. A mão esquerda. Permaneça consciente. As costas inteiras. O peito. O abdômen. O glúteo direito. O glúteo esquerdo. A perna direita. A perna esquerda. O pé direito. O pé esquerdo. O corpo inteiro de uma só vez. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade (1/2 minuto em silêncio). Agora faça o sankalpa: tome a resolução de permanecer absolutamente estável e imóvel durante toda a prática. Repita mentalmente: “durante toda a prática fico absolutamente estável, absolutamente imóvel. Absolutamente estável e imóvel.” Fique atento aos sinais de desconforto do corpo. Consciência total em todos os sinais de desconforto: dor, coceira, formigamento, necessidade de deglutir saliva, o que for. E permaneça absolutamente firme e imóvel. Quando você se prepara para permanecer atento e evitar todo e qualquer movimento, o corpo permanece imóvel e rígido como uma estátua. E você percebe uma sensação de levitação astral. Se houver algum movimento inconsciente, tome consciência desse movimento. Torne-o consciente. Consciência total no corpo e na estabilidade. Consciência total no corpo e na imobilidade. Seu corpo está totalmente estável e imóvel. Absolutamente firme e descontraído. Esta é a forma da sua consciência agora (1/2 minuto em silêncio). Você está preparado para manter esse estado. Sinta seu corpo ficando mais e mais rígido. Mais e mais firme. Tão rígido e firme que, depois de algum tempo, você não consegue mais se mexer. Consciência total no corpo e na rigidez. Consciência total no corpo e na firmeza. Seu corpo está absolutamente rígido e firme. Rígido e firme, porém, perfeitamente descontraído e relaxado. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio). Ao manter a consciência centrada, você sente o seu corpo ficar cada vez mais leve, cada vez mais sutil. Tão leve e sutil, que a consciência do corpo se esvai. A consciência do corpo se esvai (1/2 minuto em silêncio). Este é o momento para levar a consciência para os sons à sua volta. Consciência total num som apenas. Escolha um som dos que você está percebendo. Mantenha-se totalmente concentrado neste som. Não analise o som. Não tente localizá-lo. Apenas observe. Consciência total num som apenas (1/2 minuto em silêncio). Quando a sua mente perder interesse neste som, escolha outro e fixe-se nele. Desta forma, movimente-se de som para som. Consciência total e absoluta (3 minutos em silêncio).

Agora coloque a atenção no ritmo natural da sua respiração. Consciência total no ritmo natural da sua respiração, sem interferir nela. Observe o ar entrando e saindo pelas narinas. Quando o ar entrar, esteja ciente: “estou inspirando”. Quando o ar sair, esteja ciente: “estou exalando”. Consciência total e absoluta no ritmo natural da sua respiração. Consciência intensa (3 minutos em silêncio).

Coloque novamente a atenção nos sons à sua volta. Escolha um som dos que você está percebendo neste momento. Mantenha-se totalmente concentrado neste som. Quando a sua mente perder interesse nele, escolha outro. Consciência total e absoluta, um som de cada vez (2 minutos em silêncio).

Volte a atenção para o ritmo natural da respiração. Consciência total a absoluta no ritmo natural da sua respiração, sem interferir nela. Seja consciente de que está inspirando. Seja consciente de que está exalando. Observe o ar entrando e saindo pelas narinas. Consciência intensa (2 minutos em silêncio). Novamente traga a atenção para os sons do ambiente. Escolha um som e mantenha a sua atenção nele. Mantenha-se totalmente concentrado. Quando a sua mente perder interesse neste som, escolha outro e fixe-se nele. Consciência total e absoluta, um som de cada vez (2 minutos em silêncio). Fixe a sua consciência no ritmo natural da respiração. Consciência contínua e intensa no ritmo natural da sua respiração, como uma testemunha. Sinta o ar fluindo, entrando e saindo pelas narinas. Consciência total e absoluta no ritmo natural da sua respiração. Consciência intensa (2 minutos em silêncio). Novamente traga a atenção para os sons do ambiente. Escolha um som e mantenha a sua atenção nele. Ao sentir que está perdendo o interesse, concentre-se noutro som. Consciência intensa, sempre num som de cada vez (2 minutos em silêncio).

Coloque a atenção no ritmo natural da sua respiração. Consciência total e intensa no ritmo natural da sua respiração, sem interferir, como uma testemunha. Esteja ciente de que está inspirando. Esteja ciente de que está exalando. Consciência contínua e absoluta (2 minutos em silêncio). Agora, ao concluir a prática, vincule a sua consciência com o exterior. Sinta a sua respiração. Perceba que você respira não apenas com os pulmões, mas com todo o corpo. Fique atento ao momento presente, aos seus sentimentos. Então, movimente-se devagar. Abra os olhos. A prática de antar mouna está completa. Om Shánti, Shánti, Shánti.

Dia de exame


Amanhã (chegou tão rápido) farei o exame prático do Detran. Achei que estivesse preparada para este momento, mas não estou. Ontem, mostrei uma falta de coordenação incomum nas aulas de volante. Parecia que outro ser, ainda mais amedrontado do que eu, quisesse passar uma temporada em mim. Então, depois, sozinha em casa, em vez de negar sua existência, resolvi convidá-lo para um chá. “Apareça – eu pedi diversas vezes com delicadeza – eu aceito você de qualquer tamanho e forma. Apareça”.
Eu queria mesmo ver esse medo, mergulhar nele como quem desliza na onda do mar, já que tentar contê-la é um trauma salgado que entra pelo nariz e faz engasgar.
Fui esperando ele surgir com a sensação de quem sobe os trilhos de uma montanha russa bem alta. De repente, o frio na barriga, mas apenas um arremedado do que estava por vir: a queda livre.
Pensei no julgamento das pessoas que ficam olhando enquanto você faz o teste e nas que estão esperando por minha aprovação. Pensei na inutilidade desse pensamento de ego. Pensei na inutilidade de julgar um pensamento de ego. Na inutilidade de todos os julgamentos.
Medo de errar. Medo de uma reprovação maior do que a reprovação do exame. Medo de sentir medo. Medo de sentir vergonha. Medo de uma aparição vergonhosa. Ah! Esse olhar do outro que parece chiclete grudado no sapato. Preciso olhar por onde andam meus pensamentos.
Olho para possíveis rostos que me assistem errando. Olho. Tento achar um rosto de sarcasmo. Surge o de um homem, mas ele se parece comigo em cor de pele e de olhos. Enfim, meu medo se revelou em conteúdo e forma: eu mesma, sarcástica, risonha, intolerante. Não há outro a não ser eu.
Ainda nessa cena, eu desço do carro estacionado. Deixo o examinador com cara de examinador. Caminho até o homem-parecido-comigo e o abraço. Tão forte, tão forte que ele ri. Não de sarcasmo, mas de amor.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dos medos que não são nossos


Pergunto-me se o medo de dirigir existiria se pudéssemos esperar da maioria dos motoristas não as grandes virtudes – como compaixão, generosidade, tolerância e, em nível mais elevado, amor –, mas se tivéssemos a certeza de que cada um faria o básico exigido pelas leis de trânsito. Acho que grande parte dele acabaria, isto é, ficaríamos apenas com o bloqueio particular que nos cabe.

Hoje, quando dirigia em uma avenida movimentada, enfrentei minha primeira situação de pânico. Levou segundos (o maior dos acidentes pode acontecer no mínimo de tempo). Havia um carro estacionado na pista da direita, onde eu estava devagar. Fui obrigada a me deslocar um pouco para esquerda, na segunda faixa. De repente, fui fechada por um Palio. Fiquei, por átimos de segundo, espremida entre os dois carros.

Dá para acreditar que o sujeito do Palio fechou um carro de autoescola? Que tipo de monstro fecha um carro de autoescola? No susto, virei o volante para direita bruscamente, movimento que foi detido com agilidade por meu instrutor. Graças a ele, a consequência foi mínima: bati de leve no retrovisor do carro parado, também errado na situação.

Tenho visto motoristas jogarem o carro em cima de bicicletas, quando a lei os obriga a trafegar 1,5m de distância delas. Considerando a fragilidade do ciclista e o espaço que uma magrela economiza, seria o mínimo a fazer. A violência acelera também sobre idosos que não chegam ao outro lado da pista no tempo recorde estabelecido pelos faróis, sobre mulheres com carrinhos de bebê, sobre animais indefesos.

Duas coisas me espantaram:

Coisa 1: a de constatar que dirigir é como ir para uma guerra. Cada um defendendo o seu territoriozinho motorizado. Eu não quero me tornar isso. Eu quero ser uma motorista-Gandhi. Se ele conseguiu conquistar a independência da Índia sem tocar em armas, conseguirei conquistar minha própria independência sem violências automobilísticas.

Coisa 2: não fiquei trêmula, não chorei, não pedi para meu instrutor continuar por mim. Da experiência, ficaram a apenas este texto e uma profunda tristeza pela ausência de humanidade.