quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Livre do medo




Agência FAPESP – Bloquear a manifestação de memórias de medo por meio de um método não invasivo e que não se baseia no uso de drogas. A novidade, que poderá ter implicações importantes no tratamento de problemas relacionados ao medo, acaba de ser demonstrada em artigo na edição desta quinta-feira (10/12) da revista Nature.

Estudos anteriores demonstraram como bloquear tais memórias, mas envolviam o uso de compostos tóxicos e duravam apenas alguns dias. No novo método, Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, e colegas evitaram o uso de drogas ao se basear na fase conhecida como “reconsolidação” da memória, na qual memórias antigas podem passar por mudanças.

Após treinar voluntários a sentir medo de certos estímulos visuais, os pesquisadores apresentaram uma nova informação “segura” ao mesmo tempo em que reativavam as memórias de medo. Ao fazer isso, eles conseguiram “reescrever” os pensamentos negativos associados com os estímulos.

Os efeitos da intervenção duraram cerca de um ano e aparentemente não afetaram as memórias que não foram reativadas no momento da introdução da nova informação. Os autores do estudo concluíram que as memórias antigas de medo podem ser atualizadas com informações não amedrontadoras.

Os resultados reforçam a hipótese de que as memórias emocionais se reconsolidam a cada vez que são recuperadas. E que o período em que o processo ocorre tornar as memórias vulneráveis a modificações que podem ser induzidas. Ou seja, pode-se livrar o portador da sensação de medo para aquela determinada memória.

“O momento parece ser mais importante para o controle do medo do que imaginávamos. Nossa memória reflete mais a última vez que foi recuperada do que a exata recuperação do evento original”, disse Elizabeth.

Além das implicações no tratamento de distúrbios relacionados ao medo, os resultados apontam que o momento das intervenções terapêuticas tem um papel muito importante para o sucesso dos procedimentos.

“Inspirado em estudos básicos em roedores, essa nova descoberta em humanos poderá ser transferida para o desenvolvimento de melhores terapias para o tratamento de distúrbios de ansiedade, como o estresse pós-traumático”, disse Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, um dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, que financiou a pesquisa.

O artigo Preventing the return of fear in humans using reconsolidation update mechanisms, de Elizabeth Phelps e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Trauma de outro mundo


Adorei a crônica da Mirna, no site WebMotors:

Ex-piloto de nave espacial
Motorista encontra resposta de outro mundo para medo de dirigir

http://www.webmotors.com.br/wmPublicador/Cronicas_Conteudo.vxlpub?hnid=43497

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Prometeu



Sobrevivi ao desafio (leia o post abaixo). Ao menos fisicamente, estou aqui. Outra parte de mim, esta quieta. Não sei. Estou zonza, feliz, arrependida, orgulhosa, amedrontada, impaciente. Nunca antes estive tão perto de um medo, respirando o mesmo ar.
Sei como é ser Prometeu, acorrentado na montanha: a águia vem – castigo divino – e lhe devora o fígado. Depois de toda dor, o órgão se regenera (Prometeu é imortal) para, na manhã seguinte, novamente ser devorado.
Hoje à noite, levarei o carro pra casa. Novamente, seguirei alguém.
Eis meu fígado exposto. Minha fratura.

Aaaaaaaahhhhh!

Em meia hora terei de dirigir sozinha. Estou sofrendo desde ontem. Mentira: estou sofrendo desde que soube da notícia, há uma semana. Não sei se a história de gastar ansiedade está funcionando comigo. Acho que está, mas todas as conquistas emocionais parecem desaparecer sempre que tenho um novo desafio.

A iniciativa de guiar hoje nada tem a ver com a Clínica. Farei o mesmo esquema daquela primeira vez que dirigi o Picasso: um jornalista guia um carro a minha frente, eu o sigo. Desta vez, porém, o carro não é automático e eu ainda não sei colocar quinta marcha. Espero não precisar sair da terceira.

Esse medo é um saco, resistente. Ontem, adivinhando meus pensamentos (que eram assim: por que, afinal, estou me violentando a esse ponto, por que me coloquei nessa situação? Poderia continuar usando transporte coletivo ou táxi), a terapeuta que me acompanha no carro me disse: “nos momentos de medo, costumamos pensar que estaríamos bem melhor se não tivéssemos que passar por isso. Isso é fuga; uma hora, teremos de enfrentá-los".

Lá vou eu. Cruzem os dedos por mim!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ansiedade é como dinheiro: quanto mais você gasta, menos você tem


Há quase dois meses, acordo às 5 horas da manhã para ir à aula de volante, que começa às 7 horas. Na noite que antecede o desafio meu estômago fica um pouco mais gelado que o resto do corpo, mas finjo que nada está acontecendo. Não é uma boa coisa. É falso como fingir ser indiferente a alguém que você ama ou odeia.

Quarta-feira (14), foi impossível não ver que minha ansiedade ainda está ali, e precisava ser “gasta”, segundo Fabiana Saghi, a terapeuta que me acompanha no carro. Fiquei encantada com isso de “gastar ansiedade”. Imediatamente interpretei que, como o dinheiro, uma hora a ansiedade pode acabar de tanto a gente usar. Mas como fazer isso?

Enfrentamento com o apoio de um especialista. A sensação é a de ir para um campo de batalha, acompanhado da incerteza de voltar com vida.

O carro de ontem era um Gol novinho, que eu nunca tinha guiado. Na hora, pensei no câmbio: vou estranhar. Dito e feito. Estranhei tanto que transpirei do início ao fim do trajeto. Deixei o carro morrer e, não fosse a terapeuta pisar no freio, teria batido no carro de trás.

Sabe aquela coisa de falar em público? Você se sente confuso, se esquece das falas, esbarra nas coisas, não sabe bem o que fazer com seu corpo. Dirigir ansioso é parecido, só que em vez de palavras, você esquece as marchas, troca os comandos, liga o limpador de para-brisa em vez de seta. É um inferno.

O bálsamo da história, a fala misericordiosa, é que, mesmo sem perceber estamos gastando ansiedade nessas situações.

Queira Deus que esse saco tenha fundo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Perder o medo de dirigir é conquistar um lugar, isto é, incomodar!



Logo no início da vida, um dos fatos geradores de angústia – segundo Sigmund Freud, o pai da psicanálise – é perceber que não somos o único objeto de desejo da mãe. Pai, irmãos, novela das oito, qualquer coisa que desvie a atenção dela de nós é visto como um inimigo potencial. Crescemos, estudamos, aprendemos como as coisas funcionam, mas, pelo comportamento apresentado pela maioria das pessoas, pode-se dizer que essa história de perder a condição de único e mais especial ser ocupando o planeta não foi bem digerida. Boa prova disso, claro, é o trânsito. Portanto, quem está disposto a perder o medo de dirigir deve preparar-se para perder também o medo da cara feira e do choro (disfarçado de buzina) de alguns mimados que não vão querer dividir as ruas dele com você.

Essa percepção ficou clara no desafio de hoje da série Coragem de Dirigir (veja abaixo). Realizado em um Gol com os dizeres “motorista em treinamento” e na companhia de Fabiana Saghi, terapeuta da Clínica Escola Cecília Bellina, o objetivo era “só” dar continuidade ao treinamento de olhar nos espelhos laterais para mudar de faixa e encarar um trecho da Marginal, mas o aprendizado veio também por outras vias. Minha redução de marcha melhorou consideravelmente, mas ainda fico ansiosa e muito tensa com a falta de domínio do câmbio manual. Deixar o carro morrer ou demorar mais do que três segundos (tempo intolerável para um paulista) para sair do lugar me fazem suar frio. Além da técnica, o pronto apoio psicológico nesses momentos é o que dá força para não desistir.

Depois de sair com o carro, eu ainda tentava me acostumar ao câmbio quando, após três lentos segundos para sair do lugar, o motorista de trás mandou logo duas buzinadas (choro) impacientes. A minha frente, a pista continuava parada. Nervosa, olhei pelo retrovisor e, com mãos e palavras, perguntei: “o que você quer que eu faça, meu filho?”. E poderia bem, como desenvolvi acima, completar: “o que você quer que eu faça, meu filho, há outras coisas no mundo além de você”.

O desafio do dia era mesmo dar-me o direito de existir, com ou sem erros. No farol seguinte, um vendedor de balas – daqueles que usam seu retrovisor como balcão – teve um surto ao ler que se tratava de um “motorista em treinamento”. Caminhou na minha direção e, repetidas vezes, gritou: “tranca-rua, tranca-rua, tranca-rua”.

Apesar da raiva, tive de admitir que aquele infeliz manifestava exatamente meu estado de espírito. Como iniciante, minha sensação era de estar trancando o caminho dos outros motoristas, principalmente o dos reizinhos recalcados. Mas a hostilidade do homem me acordou para o fato de que eu, tanto quanto os outros, tinha o direito de estar ali. Aliás, ao estar em treinamento, faço um enorme bem à saúde do trânsito. A maioria dos motoristas sabe que é impossível estar apto a dirigir apenas com as aulas da autoescola.

A terapeuta me disse que a Clínica Escola Cecília Bellina tem o projeto de fazer diferentes adesivos para os carros de treinamento, algo como: “amaciando o motor”, “freio para animais” etc. Depois de minha última aula, estou planejando colocar um com os seguintes dizeres no meu carro:

“Você que já nasceu sabendo dirigir, me desculpe: eu preciso treinar um pouco mais”.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Após 17 anos de pânico, encarei o volante sozinha!

Em 10 agosto de 2008, uma internauta escreveria ao site WebMotors elogiando as reportagens e terminando com um comentário no mínino intrigante: “aproveito cada descrição dos jornalistas, porque as palavras são o mais próximo que consigo chegar de um carro. Tenho pavor dirigir e a certeza de que nunca o superarei”.

Dias depois, a internauta seria surpreendida pelo e-mail de resposta enviado por este site. O time editorial havia entrado em contato com a Clínica Escola Cecília Bellina, pioneira no Brasil no tratamento do medo de dirigir, e proposto à autoescola cuidar do caso da internauta. A esta última caberia relatar por meio de reportagens sua experiência de enfrentamento, do início ao fim, independente do resultado.

A internauta – no caso, eu – aceitou. Embora feliz com a oportunidade, não havia nenhuma expectativa de que aquela empreitada daria resultados. Afinal, o medo se manifestou pela primeira vez, disfarçado de falta de tempo, quando, com dez aulas pagas na autoescola abandonei as últimas cinco e não voltei mais.

Em seguida, vieram as tentativas de, mesmo sem habilitação, dirigir com amigos e namorados. Se com um professor ao lado a coisa não progrediu, com pessoas despreparadas, tão ansiosas quanto eu, a experiência – especialmente a última delas, seria dramática. Depois de dirigir por uma desértica pista de terra, fui incentivada a continuar guiando mais um pouco, até o início da asfaltada. A pista de mão dupla, diga-se, era uma rodovia. Com a consciência veio o pânico. Pisei no freio, saí do carro e, por pouco, não causei um engavetamento seguido de atropelamento.

Com esse “quase” acidente na memória, nunca mais havia ousado me aproximar de um carro novamente, até ter minha primeira aula de volante na Clínica. Quer dizer, não foi tão simples assim. Da entrevista com Cecília Bellina, em 25 de junho de 2008, a fazer o teste psicotécnico, foram quase 30 dias. Um piscar de olhos se comparado ao tempo que levei depois do psicotécnico à primeira aula no CFC (oito meses), e do fim do CFC à primeira aula prática (quatro meses). A redução de tempo, no segundo caso, só aconteceu graças à pressão de, com a validade do psicotécnico preste a vencer, ter de fazer todo o processo novamente.

Depois do período de enrosco, eu e a Clínica começamos uma maratona para fazer todas as aulas dentro do prazo. Eu tinha menos de um mês para aprender a guiar e passar no exame prático na primeira tentativa, já que não teria tempo hábil para remarcações, que devem ter, no mínimo, 15 dias de intervalo.

Por duas semanas, fiz três horas de aula por dia. Quase tive uma tendinite nos pés e, depois de aprender a fazer baliza, a certeza de que seria impossível passar no exame de primeira. Passei.

De volta ao carro da Clínica, agora com os dizeres “motorista em treinamento”, o medo ainda estava ali, mas não a ponto de o coração disparar ou o corpo tremer. Guiando com a terapeuta no banco ao lado, fui ganhando confiança até para errar, o que é fundamental em qualquer processo de aprendizado. Na aula de hoje, por exemplo, que começou às 7 horas da manhã, cometi ao menos dois: subi na guia em uma curva e fechei outro motorista ao mudar de pista, porque não olhei nos espelhos laterais. Apesar disso, fui bem no percurso. Minha maior superação, entretanto, ainda estava por vir.

Hoje, às 10 horas, recebi novo convite da equipe editorial do site WebMotors: dirigir uma minivan de São Paulo a São Bernardo do Campo, sozinha, por aproximadamente 20 quilômetros. Teria de enfrentar o trânsito da cidade e a velocidade da rodovia. Minha salvação, se aceitasse, estaria no fato de o jornalista Gustavo Ruffo estar logo a minha frente, em outro carro.

Acho que senti confiança na confiança que ele sentiu em mim. Fui. O carro era gigante para meus padrões (4,47 metros) e totalmente automático (o que é uma delícia!). Demos uma volta juntos para eu me acostumar com aquilo tudo. Seria um clichê dizer que não há palavras para descrever o que senti quando Gustavo saiu do carro para assumir o volante do outro, mas ele cabe perfeitamente nesta situação. Eu, sozinha, com meu medo de 17 anos de vida. Tão próximo éramos, quase um filho. Eu teria de arremessá-lo pela janela naquele momento. Estranho, mas verdadeiro, que cheguei a pensar o que seria (será) de mim sem ele. Há algo que eu nunca revelei nesta coluna: minha mãe morre de medo de dirigir, empalidece à ideia de ir no banco do carona. Por um instante, sentir meu medo ir embora foi como perder parte dela ali também.

Se há algo que deve deixar nossos pais profundamente honrados é ir além do que eles foram, e não repetir suas limitações. Mas não havia tempo para muitas divagações. Gustavo parou logo a minha frente, fez pelo retrovisor o sinal de “siga-me”. E eu decidi que era hora ir.

O carro como divã


Após superar as etapas teórica e prática para tirar a CNH (confira abaixo a série Coragem de Dirigir), deixei o carro com o adesivo de “autoescola” para estrear o com os dizeres “motorista em treinamento”. Por dificuldade de conciliar meu horário com o do grupo de terapia – e para que o processo não seja interrompido agora – tive uma sessão no carro, acompanhada pela psicóloga Fabiana Saghi. O objetivo, porém, é frequentar o grupo.

A primeira ansiedade foi justamente com o adesivo do carro. Será que os outros motoristas o respeitariam tanto quanto respeitam um carro de autoescola? Para minha surpresa, Fabiana contou que o respeito costuma ser maior com o “motorista em treinamento”, isso porque muitos acreditam que lugar de carro de autoescola é em rua deserta.

De um jeito ou de outro, me tranquiliza poder sinalizar aos demais motoristas que ainda não tenho total domínio do carro. A exemplo de alguns países, talvez fosse mais seguro o motorista iniciante ter uma sinalização no carro indicando sua condição. Assim, dividimos a responsabilidade. Só a carteira provisória não basta, ninguém vê.

O fato de estar com a terapeuta ao lado deu-me uma segurança que jamais senti. Claro que tive certo receio de guiar em ruas estreitas e parar em ladeiras, mas Fabiana me encorajou a enfrentá-lo, dando-me suporte emocional e técnico (é difícil perder o medo de dirigir se você não souber manusear o carro).

Ainda me confundo um pouco com as marchas. Reduzidas me fazem sonhar com um carro automático e as motos são um pânico à parte. Mas nada muito diferente de que acontece a uma pessoa normal. Ops, eu disse “normal”? É... acho que começo a caminhar – agora sobre rodas – para isso.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Todas as rodas

Eu ainda não perdi o medo de dirigir carros. Ainda assim, vou tirar também minha habilitação para dirigir motos.
Já que é para perder o medo, tem que ser geral. Recentemente ganhei uma bicicleta para três pessoas. Achei um sinal.
Carro, moto, bike. Quem sabe ano que vem não estarei pilotando avião?

Muitas coisas estão acontecendo fora e dentro de mim desde que retomei as aulas de volante. Lembranças, sonhos, imagens. Coisa engraçada essa de a vida nunca ser igual, nunca parar, nunca ter medo de ir. A gente é que estaciona, mas quando resolve seguir o fluxo, que paisagem!

No início desta semana, encontrei um primo, meu melhor amigo de infância, que não via há muitos anos. Sem saber de minha história, ele perguntou ao acaso: “você está dirigindo muito?”. Eu não entendi bem a pergunta. Enquanto pensava a respeito do “muito”, ele emendou: “lembro-me que você adorava dirigir. Você queria pegar o carro em qualquer ocasião. Lembra-se daquela vez na praia?”

Não lembrava, mas a imagem veio com a frase dele. Estávamos só nós dois, véspera de Natal. Era época que ainda não existia trânsito, coisa de 15 anos atrás. Então descemos a serra, nadamos, conversamos e eu dirigi por muito tempo em ruas desertas.

Que lembrança perturbadora. E feliz. Se eu inventei meu medo, posso desinventá-lo. É isso que estou fazendo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

10 coisas para fazer depois de perder o medo de guiar

Depois de passar no exame prático do Detran – e reviver o otimismo contagiante de quando aceitei o desafio proposto pelo site WebMotors e Clínica Escola Cecília Bellina –, pressinto que “aquilo” que me distanciou do volante por tantos anos voltou a me rondar. Minha próxima aula prática está agendada para amanhã, mas já faltei a duas seções de terapia, forte aliada às aulas de volante. Isso é um (mau) sinal.

Desde que a série “Coragem de Dirigir” começou, dezenas de internautas nos escrevem sobre as limitações que vivenciam diariamente por ter medo de guiar. A maioria deles imagina, por exemplo, como seria prático poder levar os filhos à escola, ir ao supermercado sozinho ou não se submeter, todos os dias, ao péssimo transporte público. Também eu tinha interesses parecidos, mas o meu medo os tem, como quem come um saco de pipocas no cinema, devorado um a um. Acho que preciso de algo mais substancial, verdadeiro, denso a ponto de entalar na garganta do maior dos pânicos.

Estou em busca de minha mais profunda motivação agora. Não é um exercício fácil, mas é surpreendente. Capaz que você comece sendo uma pessoa e, ao final, descubra-se outra. Aviso: é um exercício que exigirá de você despir-se de desculpas, de máscaras, de coisas que a você nem imagina que tem. Meu esforço rendeu uma lista imensa. Publiquei apenas o publicável. Divido com você minhas 10 primeiras motivações:

Tomar para mim, no trânsito, o espaço que é meu, sem medo de imperfeições. Tal como quando caminho na calçada: espontânea e naturalmente. Não é aceitar um lugar como quem recebe uma doação. Ninguém pode nos dar o que já é nosso de direito. É tomar.

Ter um Land Rover Defender.

Em noite de garoa fria, colocar no carro um cachorro abandonado. Desde que o meu morreu por omissão de socorro (ninguém queria sujar o banco com um animal ensanguentado), tenho sonhado com essa adoção.

Dirigir, do lado direito, entre vacas e elefantes na Índia. Ir do Taj Mahal aos pés do Himalaia, parando de templo em templo, e, de tempo em tempo, surpreender-me com aquilo que já não preciso ser.

Candidatar-me para buscar, no aeroporto, alguém que amo profundamente. E, com o amor que inunda essa profundidade, ser seu chofer por tantos dias e lugares quanto ele quisesse.

Usar saia curta e salto alto em dia frio.

Levar meus parentes mais tímidos para um passeio de perplexidades. Talvez um céu estrelado de interior, a gente deitado na grama só assistindo.

Assistir à ultima seção de cinema.

Ir à praia segunda-feira à noite. Ver o mar e voltar.

Dirigir na estrada no exato instante em que se espanta com o mistério de estar vivo. Vidros abertos, vento levando os cabelos para trás assim como a maré empurra ondas para frente. No CD, a música: “Ando devagar porque já tive pressa/E levo esse sorriso porque já chorei demais/Cada um de nós compõe a sua história,/Cada ser em si carrega o dom de ser capaz/De ser feliz...”


E você, quais itens estariam na sua lista?

Instrutores e examinadores de trânsito farão exames de avaliação

Brasília - Instrutores e examinadores de trânsito no exercício da função serão obrigados a prestar exame de avaliação a cada três anos. A Resolução nº 321 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) está no Diário Oficial da União de hoje (22) e vale para todo o território nacional. O Contran acatou proposta da Associação Nacional dos Departamentos Estaduais de Trânsito e do Distrito Federal e espera, com isso, melhorar a qualidade do ensino nos centros de formação de condutores.

Os exames serão promovidos e coordenados pelo Denatran, a cada três anos, contados da data da primeira prova. A aplicação dos exames ficará a cargo dos estados e do Distrito Federal, segundo as determinações do Denatran. Os profissionais que não atingirem nota igual ou superior a 70 serão suspensos do exercício da atividade e submetidos à requalificação.

A retomada da atividade estará sujeita à apresentação ao órgão de trânsito do estado do certificado de participação no curso de requalificação. O Denatran editará as instruções necessárias para o cumprimento da resolução.','').

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dia de exame prático: desfecho

O tempo é relativo. Nunca isso me pareceu tão verdadeiro como hoje, enquanto esperava minha vez para realizar o exame prático do DETRAN.

Na fila, eu estava meio zonza, alheia. Perdi o sono às três da manhã e, em vez de contar carneirinhos, repassei na mente o percurso da prova, seta por seta, até conseguir dormir novamente. Não estava confiante. Não sei se, no local da prova, isso é possível para um ser humano normal (e que quer passar honestamente).

Para minimizar minha insegurança, meu instrutor permitiu que eu transformasse o carro em algo pessoal. Jonas é treinado para ensinar pessoas com medo de dirigir e sabe bem o que fazer em momentos de grande tensão. Ele teve o cuidado de tirar o tapete, que já havia enroscado no pedal da embreagem uma vez. De minha parte, coloquei no porta-treco objetos que me transmitem segurança: uma foto do mestre hindu Sai Baba, uma imagem de Ganesha e outra de Santa Sara. Todos eles ali, juntos, torcendo por mim.

Entrei no carro. Fiquei sozinha por alguns minutos. Interminavelmente depois, uma examinadora se sentou ao meu lado. Na hora, achei azar o meu que fosse uma mulher, mas mudei de ideia depois. Explico por quê.

Ela disse “bom dia”, o que pareceu um bom sinal. E emendou um: “nossa, que frio”. Entretanto, fez jus à fama dos examinadores na forma como reagiu a minha interação. “Estou tão nervosa que não sinto frio”, respondi. Ela me ignorou.

“Eu já arrumei os espelhos”, disse para evitar uma encenação. Ela, muda. Enquanto checava a documentação, acabei atropelando o processo. “Posso sair?”, perguntei. Ela me olhou com surpresa de indignação. Corrigi: “ah, não. Você ainda nem colocou os cintos”. Não tinha como piorar. Ela suspirou e deu o comando: “pode ir”.

O roteiro foi: 1. Arrumar postura no banco. 2. colocar o cinto. 3. ligar o carro. 4. ligar a seta. 5 engatar primeira. 6. olhar no retrovisor. 7. soltar o freio de mão. 8. sair. Tudo certo até aí.

“Faça a baliza branca”, foi o segundo comanda dela. Imediatamente, seta para a direita. Insegura, apontei: “aquela ali?” Ela: “você está vendo outra?”. Síndrome do pequeno poder, pensei. Deve ser um dos poucos momentos do dia em que ela pode falar assim com uma pessoa contando que não será afrontada. E deve ser o único momento da vida em que tenho a oportunidade de simplesmente não retrucar uma grosseria. Que paz.

Enquanto fazia a primeira manobra da baliza, ela pegou a foto do Sai Baba. Deve ter estranhado, sei lá. Só sei que, enquanto olhava, ela ficou bem na frente do retrovisor lateral, quase não consegui calcular o ponto certo. Eu tentei de novo: “Já tinha visto Sai Baba antes?”. Ela me ignorou e devolveu a foto no porta-treco.

Acho que me desconcentrei um pouco com a cena. Quando fazia uma bobagem qualquer no volante, senti o olhar de interrogação. O lado positivo de uma mulher ser examinada por outra mulher é que somos especialistas em leitura de face sem sequer precisar virar o rosto. Me concentrei, acertei o volante e terminei a baliza.

Para meu horror, ela não abriu a porta do carro para ver quão perto ou longe eu fiquei. Disse apenas: “Pode sair”.

Fiquei muda, sem saber ao certo o que aquilo queria dizer. “Achei que tivesse cometido o pior dos erros da baliza. Quando me preparava para desligar o carro e sair, ela emendou: “pode sair com o carro”. Ufa!

Bom, depois da baliza, me senti muito segura. Errei apenas uma seta, sinalizado no ato por ela e que me ajudou a não esquecer as demais.

Ainda não acredito que passei. Estou anestesiada de felicidade, principalmente porque recebi abraços sinceros de pessoas que acompanham minha saga desde o início.

E você? Por que não vai? Por que você não arrisca? Por que você não experimenta essa felicidade também? Acredite, se eu consegui, você também consegue.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prática de véspera de exame prático

Além do suco de maracujá, de óleo essencial de lavanda no assoalho, grãos de mostarda no porta-trecos, (veja mais abaixo por que) vou praticar hoje uma meditação chamada antar mouna (silêncio interior), que retirei do site do professor de Yoga Pedro Kupfer. O antar mouna tem 6 estágios, avisa o profesor. "Apresentamos aqui o primeiro deles, que pode fazer-se sozinho em total segurança". Parece perfeito para mim

"(...) usamos uma técnica para criar silêncio interior. Esse silêncio interior nos ajuda a eliminar os obstáculos dos ruídos exteriores. Assim, podemos praticar sem precisar nos mudar para o gelo eterno dos Himalaias. Onde, por sinal, o vento e a água que descem dos glaciares fazem um barulho ensurdecedor. Antar mouna significa silêncio interior. É uma das práticas mais importantes do Yoga, pois trabalha diretamente com o diálogo mental. É uma ótima maneira de começar a meditar, pois, ao invés de ficar lutando com a mente, você apenas a observa. É uma técnica excelente para quem não consegue ainda concentrar-se nos objetos de meditação, como símbolos psíquicos ou visualizações, por simples que sejam.

Porém, o antar mouna é muito mais do que isso. Pode ser o atalho mais curto (e às vezes violento) para abrir as portas do subconsciente. Ao longo das diversas fases do antar mouna, começam a surgir lembranças, experiências, sentimentos ou pensamentos reprimidos e esquecidos, mas nem sempre resolvidos. Essas latências subconscientes, chamadas samskáras, determinam as nossas atitudes, formas de pensar e agir. São obstáculos poderosos que barram a evolução e a felicidade: tentar controlá-las eqüivaleria a tentar controlar uma intoxicação alimentar.

Da mesma forma que um alimento inadequado envenena o organismo, os samskáras poluem a psique. Toda lembrança, pensamento ou sentimento pode servir para o conhecimento ou para a ignorância.

O antar mouna nos ensina a eliminar o conflito interior causado pelos samskáras e o diálogo infernal da mente. Nos ensina a respeitar a mente e aceitar os seus conteúdos. Nos ensina a ver-nos como testemunha imparcial, aceitando as experiências e reações da mente e, posteriormente, aprendendo a controlá-la. Isso irá desenvolver a autoconsciência e a capacidade de se conhecer.

Lembranças, medos, pensamentos e sentimentos ocultos durante anos emergem um a um na superfície da consciência, se debilitam e desintegram. Em 90% dos casos, aparece o medo. O medo não é novo: acompanha o homem desde sempre e já se descreve na Taittriya Upanishad: “do medo, impulsionado pelo absoluto, o vento sopra. Do medo, o sol nasce. Pelo medo, o fogo queima e os sentidos sentem. Finalmente, pelo medo, a morte persegue o homem” (Brahmánandavalli, 8). Aqui, em forma simbólica, o autor está nos dando um recado muito claro: o medo pauta e determina todos os nossos pensamentos, as nossas decisões e ações.

Medo, em suas mais variadas formas: medo de não ser aceito pelos demais, medo da morte, medo do desconhecido. O processo de substituição dos samskáras ruins por seus opostos já aparece no Yoga Sútra (II:29,30) de Pátañjali: “quando surgirem pensamentos indesejáveis, estes podem ser vencidos convivendo-se com seus opostos. Os pensamentos indesejáveis, assim como os de agressão (...), são frutos da ignorância e sempre acabam em sofrimento infinito (por isso é necessário convivermos com seus opostos).” Este é um processo de purificação psíquica muito efetivo, chamado chitta shuddhi.

A psicoterapia, especialmente a Gestalt, procura fazer a mesma coisa. Mas, onde a psicoterapia diz: “agora que você identificou e desintegrou seus fantasmas, está pronto para ter uma vida mais feliz;” o Yoga diz: “agora você está pronto para ter uma vida mais feliz, e empreender a parte mais emocionante da aventura humana: meditar de verdade.” Por quê? Porque tanto os pensamentos bons quanto os ruins são igualmente ruins, obstáculos do mesmo tamanho que nos afastam do objetivo: “tudo provoca dor para o sábio, sejam as latências, as experiências ou suas conseqüências, ou a interação entre os estados da realidade (gunas). A dor que ainda não surgiu pode evitar-se.” Yoga Sútra, II:15-16.

O samskára é o conjunto das raízes profundas dos condicionamentos do ser, de caráter kármico e inato, que se estruturam em malhas subconscientes. Perpetua-se através das gerações por herança histórica, cultural ou étnica, afetando a todos os indivíduos.

Estamos condicionados a agir sempre em consonância com o samskára, que funciona como um modelo padrão de comportamento. J. Woodroffe dá o exemplo de uma tira de borracha que, embora possa assumir as mais diversas formas, sempre tenderá a retomar a original.

Os vásanás (lit., perfume) são as latências subconscientes. O cheiro que uma flor deixa em um pano é o vásaná dessa flor: mesmo depois de retirá-la, o perfume permanece. Os vásanás constituem um colossal obstáculo para o meditante, pois a vida subconsciente é um fluxo constante de impressões latentes que dão corpo aos vrittis. Estes, por sua vez, determinam as ações do indivíduo (karma) e assim entra-se num triângulo vicioso: os condicionamentos determinam os pensamentos, que determinam as ações, que reforçam os condicionamentos, que determinam os pensamentos, que provocam as ações, e assim por diante. Samskára -> vritti -> karma -> samskára -> vritti -> karma -> samskára...

Para poder atingir o estado de cessação das instabilidades da consciência (chittavritti nirodhah), objetivo do Yoga, é necessário aniquilar essas tendências através da capacidade de auto-observação. O alvo do antar mouna é observar o processo que alimenta o pensamento através dos sentidos e a atividade subconsciente (o samskára e os vásanás, que dão corpo à vida psico-mental).

Após haver traçado o perfil dessas latências, a técnica serve para fazer surgir os “pensamentos indesejáveis”, os vrittis de que falava Pátañjali. Em seguida, evocar as lembranças associadas a esses pensamentos e reviver as situações que as provocaram, esgotando-as e indo até o final delas, mantendo o tempo todo o estado da consciência testemunha (sakshi).

Isso produz uma purificação da consciência (chitta shuddhi) que culmina na inversão dos padrões de comportamento e nos condicionamentos que os originam. Reprogramar é substituir esses “pensamentos indesejáveis” pelos seus opostos, com ensina Pátañjali. Isolar a causa raiz do vritti, conhecer, observar, desenterrar, entender, limpar, reorganizar, substituir e, finalmente, esvaziar. Mudar a perspectiva emocional ou mental, transformando a sua significação. Não há nada definitivo: como diz o sábio, “isto também passará.”

Ou seja, conhecer o samskára, substituir as coisas ruins por outras boas e, posteriormente, eliminar também as boas. Depois disso, está-se preparado para que a meditação dê resultados a curtíssimo prazo. C. G. Jung disse que “ninguém se torna iluminado imaginando figuras de luz ou preenchendo a mente com concepções teosóficas, mas sim tornando e escuridão consciente,” levando luz para onde há trevas, iluminando as áreas escuras do ser. Removidos os obstáculos, a luz se revela. Resumindo, este processo de concentração passa pelos seguintes estágios:

1)observar,

2)acessar,

3)evocar,

4)reviver,

5)esgotar,

6)compreender,

7)purificar,

8)reprogramar,

9)esvaziar,

10) meditar.

Após a meditação, vêm ánanda, a bem-aventurança, o estado de felicidade inefável e profunda que dá o Yoga. Mas quanta felicidade?

“Imagine um homem de bem, jovem, forte, saudável e que possui toda a riqueza do mundo. Tome isso como uma unidade de felicidade humana (ánanda). Agora multiplique isso cem vezes. O resultado será a felicidade dos manushyagandharvas, e a daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso cem vezes e o resultado será equivalente a uma unidade da felicidade dos devagandharvas e daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso mais cem vezes e você terá a felicidade dos sábios e daqueles que estudaram os Vedas e destruíram o samskára. Multiplique isso cem vezes e terá a felicidade dos karmadevas, aqueles que alcançaram a dissolução através do domínio do karma.”

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Tempo: 25 a 35 minutos
Nível: básico
Sinopse: comece tomando consciência dos seus sentidos e como eles conectam você com o mundo exterior. Observe os sons do ambiente. Depois, contemple o som da sua respiração. Assim você desenvolve a capacidade de observar os pensamentos, sem identificar-se com eles. A mente pára de ser perturbada por distrações exteriores. Após praticar esta técnica algumas vezes, passe ao estágio II. Recomenda-se fazer antar mouna imediatamente após o pránáyáma, onde os conteúdos subconscientes vêm à tona.

Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Inspire profundamente e vocalize o mantra Om durante sete fôlegos: Om, Om, Om, Om, Om, Om, Om. Consciência total no seu corpo físico: no corpo inteiro e no ásana. Tome consciência da sua espinha dorsal, que está totalmente ereta, sustentando o pescoço e a cabeça. Tome consciência da posição equilibrada dos braços e pernas. Consciência total no seu corpo inteiro, dos pés à cabeça (1/2 minuto em silêncio).

Agora visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num espelho. Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado esquerdo. Por trás. Por cima. E então, de todos os lados ao mesmo tempo. Esteja consciente do corpo. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade.

Depois, imagine-se como se estivesse crescendo desde o chão. Como uma árvore. Suas pernas são as raízes da árvore. O resto do corpo é o tronco. Você está crescendo a partir do chão, fixando-se no chão. Absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Como se fosse uma árvore enorme e forte. Perceba-se, vivencie-se crescendo a partir do chão. Fixando-se no chão. Unindo-se com o chão. Você está absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio).

Tome consciência das sensações físicas que o seu corpo experimenta. Consciência total em todas as sensações físicas. Permita que estas sensações se transformem num foco para o seu pensamento. Consciência total.

Concientize-se das partes do corpo, começando pela cabeça. Visualize a sua cabeça e mantenha consciência total nela. Faça o mesmo com o pescoço. O ombro direito. O ombro esquerdo. O braço direito. O braço esquerdo. A mão direita. A mão esquerda. Permaneça consciente. As costas inteiras. O peito. O abdômen. O glúteo direito. O glúteo esquerdo. A perna direita. A perna esquerda. O pé direito. O pé esquerdo. O corpo inteiro de uma só vez. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade (1/2 minuto em silêncio). Agora faça o sankalpa: tome a resolução de permanecer absolutamente estável e imóvel durante toda a prática. Repita mentalmente: “durante toda a prática fico absolutamente estável, absolutamente imóvel. Absolutamente estável e imóvel.” Fique atento aos sinais de desconforto do corpo. Consciência total em todos os sinais de desconforto: dor, coceira, formigamento, necessidade de deglutir saliva, o que for. E permaneça absolutamente firme e imóvel. Quando você se prepara para permanecer atento e evitar todo e qualquer movimento, o corpo permanece imóvel e rígido como uma estátua. E você percebe uma sensação de levitação astral. Se houver algum movimento inconsciente, tome consciência desse movimento. Torne-o consciente. Consciência total no corpo e na estabilidade. Consciência total no corpo e na imobilidade. Seu corpo está totalmente estável e imóvel. Absolutamente firme e descontraído. Esta é a forma da sua consciência agora (1/2 minuto em silêncio). Você está preparado para manter esse estado. Sinta seu corpo ficando mais e mais rígido. Mais e mais firme. Tão rígido e firme que, depois de algum tempo, você não consegue mais se mexer. Consciência total no corpo e na rigidez. Consciência total no corpo e na firmeza. Seu corpo está absolutamente rígido e firme. Rígido e firme, porém, perfeitamente descontraído e relaxado. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio). Ao manter a consciência centrada, você sente o seu corpo ficar cada vez mais leve, cada vez mais sutil. Tão leve e sutil, que a consciência do corpo se esvai. A consciência do corpo se esvai (1/2 minuto em silêncio). Este é o momento para levar a consciência para os sons à sua volta. Consciência total num som apenas. Escolha um som dos que você está percebendo. Mantenha-se totalmente concentrado neste som. Não analise o som. Não tente localizá-lo. Apenas observe. Consciência total num som apenas (1/2 minuto em silêncio). Quando a sua mente perder interesse neste som, escolha outro e fixe-se nele. Desta forma, movimente-se de som para som. Consciência total e absoluta (3 minutos em silêncio).

Agora coloque a atenção no ritmo natural da sua respiração. Consciência total no ritmo natural da sua respiração, sem interferir nela. Observe o ar entrando e saindo pelas narinas. Quando o ar entrar, esteja ciente: “estou inspirando”. Quando o ar sair, esteja ciente: “estou exalando”. Consciência total e absoluta no ritmo natural da sua respiração. Consciência intensa (3 minutos em silêncio).

Coloque novamente a atenção nos sons à sua volta. Escolha um som dos que você está percebendo neste momento. Mantenha-se totalmente concentrado neste som. Quando a sua mente perder interesse nele, escolha outro. Consciência total e absoluta, um som de cada vez (2 minutos em silêncio).

Volte a atenção para o ritmo natural da respiração. Consciência total a absoluta no ritmo natural da sua respiração, sem interferir nela. Seja consciente de que está inspirando. Seja consciente de que está exalando. Observe o ar entrando e saindo pelas narinas. Consciência intensa (2 minutos em silêncio). Novamente traga a atenção para os sons do ambiente. Escolha um som e mantenha a sua atenção nele. Mantenha-se totalmente concentrado. Quando a sua mente perder interesse neste som, escolha outro e fixe-se nele. Consciência total e absoluta, um som de cada vez (2 minutos em silêncio). Fixe a sua consciência no ritmo natural da respiração. Consciência contínua e intensa no ritmo natural da sua respiração, como uma testemunha. Sinta o ar fluindo, entrando e saindo pelas narinas. Consciência total e absoluta no ritmo natural da sua respiração. Consciência intensa (2 minutos em silêncio). Novamente traga a atenção para os sons do ambiente. Escolha um som e mantenha a sua atenção nele. Ao sentir que está perdendo o interesse, concentre-se noutro som. Consciência intensa, sempre num som de cada vez (2 minutos em silêncio).

Coloque a atenção no ritmo natural da sua respiração. Consciência total e intensa no ritmo natural da sua respiração, sem interferir, como uma testemunha. Esteja ciente de que está inspirando. Esteja ciente de que está exalando. Consciência contínua e absoluta (2 minutos em silêncio). Agora, ao concluir a prática, vincule a sua consciência com o exterior. Sinta a sua respiração. Perceba que você respira não apenas com os pulmões, mas com todo o corpo. Fique atento ao momento presente, aos seus sentimentos. Então, movimente-se devagar. Abra os olhos. A prática de antar mouna está completa. Om Shánti, Shánti, Shánti.

Dia de exame


Amanhã (chegou tão rápido) farei o exame prático do Detran. Achei que estivesse preparada para este momento, mas não estou. Ontem, mostrei uma falta de coordenação incomum nas aulas de volante. Parecia que outro ser, ainda mais amedrontado do que eu, quisesse passar uma temporada em mim. Então, depois, sozinha em casa, em vez de negar sua existência, resolvi convidá-lo para um chá. “Apareça – eu pedi diversas vezes com delicadeza – eu aceito você de qualquer tamanho e forma. Apareça”.
Eu queria mesmo ver esse medo, mergulhar nele como quem desliza na onda do mar, já que tentar contê-la é um trauma salgado que entra pelo nariz e faz engasgar.
Fui esperando ele surgir com a sensação de quem sobe os trilhos de uma montanha russa bem alta. De repente, o frio na barriga, mas apenas um arremedado do que estava por vir: a queda livre.
Pensei no julgamento das pessoas que ficam olhando enquanto você faz o teste e nas que estão esperando por minha aprovação. Pensei na inutilidade desse pensamento de ego. Pensei na inutilidade de julgar um pensamento de ego. Na inutilidade de todos os julgamentos.
Medo de errar. Medo de uma reprovação maior do que a reprovação do exame. Medo de sentir medo. Medo de sentir vergonha. Medo de uma aparição vergonhosa. Ah! Esse olhar do outro que parece chiclete grudado no sapato. Preciso olhar por onde andam meus pensamentos.
Olho para possíveis rostos que me assistem errando. Olho. Tento achar um rosto de sarcasmo. Surge o de um homem, mas ele se parece comigo em cor de pele e de olhos. Enfim, meu medo se revelou em conteúdo e forma: eu mesma, sarcástica, risonha, intolerante. Não há outro a não ser eu.
Ainda nessa cena, eu desço do carro estacionado. Deixo o examinador com cara de examinador. Caminho até o homem-parecido-comigo e o abraço. Tão forte, tão forte que ele ri. Não de sarcasmo, mas de amor.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dos medos que não são nossos


Pergunto-me se o medo de dirigir existiria se pudéssemos esperar da maioria dos motoristas não as grandes virtudes – como compaixão, generosidade, tolerância e, em nível mais elevado, amor –, mas se tivéssemos a certeza de que cada um faria o básico exigido pelas leis de trânsito. Acho que grande parte dele acabaria, isto é, ficaríamos apenas com o bloqueio particular que nos cabe.

Hoje, quando dirigia em uma avenida movimentada, enfrentei minha primeira situação de pânico. Levou segundos (o maior dos acidentes pode acontecer no mínimo de tempo). Havia um carro estacionado na pista da direita, onde eu estava devagar. Fui obrigada a me deslocar um pouco para esquerda, na segunda faixa. De repente, fui fechada por um Palio. Fiquei, por átimos de segundo, espremida entre os dois carros.

Dá para acreditar que o sujeito do Palio fechou um carro de autoescola? Que tipo de monstro fecha um carro de autoescola? No susto, virei o volante para direita bruscamente, movimento que foi detido com agilidade por meu instrutor. Graças a ele, a consequência foi mínima: bati de leve no retrovisor do carro parado, também errado na situação.

Tenho visto motoristas jogarem o carro em cima de bicicletas, quando a lei os obriga a trafegar 1,5m de distância delas. Considerando a fragilidade do ciclista e o espaço que uma magrela economiza, seria o mínimo a fazer. A violência acelera também sobre idosos que não chegam ao outro lado da pista no tempo recorde estabelecido pelos faróis, sobre mulheres com carrinhos de bebê, sobre animais indefesos.

Duas coisas me espantaram:

Coisa 1: a de constatar que dirigir é como ir para uma guerra. Cada um defendendo o seu territoriozinho motorizado. Eu não quero me tornar isso. Eu quero ser uma motorista-Gandhi. Se ele conseguiu conquistar a independência da Índia sem tocar em armas, conseguirei conquistar minha própria independência sem violências automobilísticas.

Coisa 2: não fiquei trêmula, não chorei, não pedi para meu instrutor continuar por mim. Da experiência, ficaram a apenas este texto e uma profunda tristeza pela ausência de humanidade.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Obrigada, você é muito gentil, mas não precisa

De médico e instrutor de autoescola todo mundo tem um pouco. Ou ao menos acredita nessa inverdade.
Basta dizer “tenho medo de dirigir” para que alguém – motivado por compaixão ou insanidade – retruque: “é tão fácil, deixa que eu te ensino”. Fácil é; não é esta a questão.
Difícil foi formular a teoria da relatividade. Por isso que há apenas um Einstein no mundo, enquanto motorista de carro há milhões.
Qual é a questão? Medo. E o medo – quando não justificado – toca no mistério. De mistério, pouca gente entende.
Tive em minha adolescência péssimas experiências ao tentar dirigir com namorados, amigos, irmãos, cunhada e todo tipo de gente que, por mais que goste de você, não têm acesso ao seu mistério mais profundo. Descobri tarde que pessoas com fobia de guiar devem escolher seu professor ou professora como quem escolhe alguém para casar. Se possível, ser mais criterioso.
Ser apenas instrutor de autoescola também não adianta. É preciso ser um instrutor com algo a mais, capaz de fazê-lo entender que há entre você e o carro uma ponte existente, mas ainda invisível aos seus olhos.
Ele deve ser alguém que segura sua mão e dá o primeiro passo na ponte. Você observa os pés dele tocando o abismo, sem ser engolido por ele. Então, seu professor o convida a confiar, a tatear o chão, sentir que há algo ali e que, aos poucos, você começará a perceber o material de que esse chão é feito, suas cores, seu cheiro.
Se sentir que seu instrutor tem - e você não - algum um dom especial para enxergar a ponte, desista dele. O dom especial deve ser: fazer você ver o caminho também.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tinha um carro no meio do caminho. Tinha.

Estou na etapa prática do desafio "Coragem de dirigir". Veja aqui os capítulos anteriores dessa saga e entenda como tudo começou.