sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Prometeu



Sobrevivi ao desafio (leia o post abaixo). Ao menos fisicamente, estou aqui. Outra parte de mim, esta quieta. Não sei. Estou zonza, feliz, arrependida, orgulhosa, amedrontada, impaciente. Nunca antes estive tão perto de um medo, respirando o mesmo ar.
Sei como é ser Prometeu, acorrentado na montanha: a águia vem – castigo divino – e lhe devora o fígado. Depois de toda dor, o órgão se regenera (Prometeu é imortal) para, na manhã seguinte, novamente ser devorado.
Hoje à noite, levarei o carro pra casa. Novamente, seguirei alguém.
Eis meu fígado exposto. Minha fratura.

Aaaaaaaahhhhh!

Em meia hora terei de dirigir sozinha. Estou sofrendo desde ontem. Mentira: estou sofrendo desde que soube da notícia, há uma semana. Não sei se a história de gastar ansiedade está funcionando comigo. Acho que está, mas todas as conquistas emocionais parecem desaparecer sempre que tenho um novo desafio.

A iniciativa de guiar hoje nada tem a ver com a Clínica. Farei o mesmo esquema daquela primeira vez que dirigi o Picasso: um jornalista guia um carro a minha frente, eu o sigo. Desta vez, porém, o carro não é automático e eu ainda não sei colocar quinta marcha. Espero não precisar sair da terceira.

Esse medo é um saco, resistente. Ontem, adivinhando meus pensamentos (que eram assim: por que, afinal, estou me violentando a esse ponto, por que me coloquei nessa situação? Poderia continuar usando transporte coletivo ou táxi), a terapeuta que me acompanha no carro me disse: “nos momentos de medo, costumamos pensar que estaríamos bem melhor se não tivéssemos que passar por isso. Isso é fuga; uma hora, teremos de enfrentá-los".

Lá vou eu. Cruzem os dedos por mim!