Em 10 agosto de 2008, uma internauta escreveria ao site WebMotors elogiando as reportagens e terminando com um comentário no mínino intrigante: “aproveito cada descrição dos jornalistas, porque as palavras são o mais próximo que consigo chegar de um carro. Tenho pavor dirigir e a certeza de que nunca o superarei”.
Dias depois, a internauta seria surpreendida pelo e-mail de resposta enviado por este site. O time editorial havia entrado em contato com a Clínica Escola Cecília Bellina, pioneira no Brasil no tratamento do medo de dirigir, e proposto à autoescola cuidar do caso da internauta. A esta última caberia relatar por meio de reportagens sua experiência de enfrentamento, do início ao fim, independente do resultado.
A internauta – no caso, eu – aceitou. Embora feliz com a oportunidade, não havia nenhuma expectativa de que aquela empreitada daria resultados. Afinal, o medo se manifestou pela primeira vez, disfarçado de falta de tempo, quando, com dez aulas pagas na autoescola abandonei as últimas cinco e não voltei mais.
Em seguida, vieram as tentativas de, mesmo sem habilitação, dirigir com amigos e namorados. Se com um professor ao lado a coisa não progrediu, com pessoas despreparadas, tão ansiosas quanto eu, a experiência – especialmente a última delas, seria dramática. Depois de dirigir por uma desértica pista de terra, fui incentivada a continuar guiando mais um pouco, até o início da asfaltada. A pista de mão dupla, diga-se, era uma rodovia. Com a consciência veio o pânico. Pisei no freio, saí do carro e, por pouco, não causei um engavetamento seguido de atropelamento.
Com esse “quase” acidente na memória, nunca mais havia ousado me aproximar de um carro novamente, até ter minha primeira aula de volante na Clínica. Quer dizer, não foi tão simples assim. Da entrevista com Cecília Bellina, em 25 de junho de 2008, a fazer o teste psicotécnico, foram quase 30 dias. Um piscar de olhos se comparado ao tempo que levei depois do psicotécnico à primeira aula no CFC (oito meses), e do fim do CFC à primeira aula prática (quatro meses). A redução de tempo, no segundo caso, só aconteceu graças à pressão de, com a validade do psicotécnico preste a vencer, ter de fazer todo o processo novamente.
Depois do período de enrosco, eu e a Clínica começamos uma maratona para fazer todas as aulas dentro do prazo. Eu tinha menos de um mês para aprender a guiar e passar no exame prático na primeira tentativa, já que não teria tempo hábil para remarcações, que devem ter, no mínimo, 15 dias de intervalo.
Por duas semanas, fiz três horas de aula por dia. Quase tive uma tendinite nos pés e, depois de aprender a fazer baliza, a certeza de que seria impossível passar no exame de primeira. Passei.
De volta ao carro da Clínica, agora com os dizeres “motorista em treinamento”, o medo ainda estava ali, mas não a ponto de o coração disparar ou o corpo tremer. Guiando com a terapeuta no banco ao lado, fui ganhando confiança até para errar, o que é fundamental em qualquer processo de aprendizado. Na aula de hoje, por exemplo, que começou às 7 horas da manhã, cometi ao menos dois: subi na guia em uma curva e fechei outro motorista ao mudar de pista, porque não olhei nos espelhos laterais. Apesar disso, fui bem no percurso. Minha maior superação, entretanto, ainda estava por vir.
Hoje, às 10 horas, recebi novo convite da equipe editorial do site WebMotors: dirigir uma minivan de São Paulo a São Bernardo do Campo, sozinha, por aproximadamente 20 quilômetros. Teria de enfrentar o trânsito da cidade e a velocidade da rodovia. Minha salvação, se aceitasse, estaria no fato de o jornalista Gustavo Ruffo estar logo a minha frente, em outro carro.
Acho que senti confiança na confiança que ele sentiu em mim. Fui. O carro era gigante para meus padrões (4,47 metros) e totalmente automático (o que é uma delícia!). Demos uma volta juntos para eu me acostumar com aquilo tudo. Seria um clichê dizer que não há palavras para descrever o que senti quando Gustavo saiu do carro para assumir o volante do outro, mas ele cabe perfeitamente nesta situação. Eu, sozinha, com meu medo de 17 anos de vida. Tão próximo éramos, quase um filho. Eu teria de arremessá-lo pela janela naquele momento. Estranho, mas verdadeiro, que cheguei a pensar o que seria (será) de mim sem ele. Há algo que eu nunca revelei nesta coluna: minha mãe morre de medo de dirigir, empalidece à ideia de ir no banco do carona. Por um instante, sentir meu medo ir embora foi como perder parte dela ali também.
Se há algo que deve deixar nossos pais profundamente honrados é ir além do que eles foram, e não repetir suas limitações. Mas não havia tempo para muitas divagações. Gustavo parou logo a minha frente, fez pelo retrovisor o sinal de “siga-me”. E eu decidi que era hora ir.
Caramba Andreia... eae o que aconteceu???
ResponderExcluirto ansioso pela continuação da história rs!
Existe esta clínica no Rio de Janeiro? Tenho a CNH há 12 anos, dirigi uma vez porque meu esposo passou mal durante a madrugada. O primeiro instrutor foi ruim, mas consegui passar nas provas, porém fiquei com insegurança de encarar o trânsito até hoje, o segunto foi melhor, mas os carros que tínhamos condições de comprar não me davam segurança para enfrentar, davam problemas mecâncios que me congelavam só de imaginar que poderia ocorrer comigo. Agora meu esposo comprou um bom carro, não é zero, mas um bom carro. Voltei em outra auto-escola, renovei a CNH, fiz 5 treinos e agora mais 10 particulares, estou no meio, mas a dúvida se conseguirei ainda continua. Para completar moro em uma ladeira de mão dupla, com moto- táxi, caminhões e pedestres que andam na rua por falta de opção. A garagem que deixamos o carro também é outro desafio. Enfim, acho que a clínica me ajudaria bastante, pois não me vejo dirigindo normalmente, quando vejo meu esposo dirigindo e os acontecimentos no trânsito não me vejo saindo bem como ele. E teria que dirigir para meus filhos, são 3 e um deles tem menos de 2 anos, imagina, insegura e com uma criancinha chorando porque quer estar do meu lado.
ResponderExcluirParabens, estou torcendo por voce, não pare nunca pois o mundo tambem é seu.
ResponderExcluirSou instrutor de autoescola.
Parabens, estou torcendo por vc, que diferente de mim, conseguiu superar seu medo. Pois so na possibilidade de pensar em tirar o carro da garagem fico a ponto de passar mal, o pior e que tenho CNH, carro na caragem, mas infelizmeente ando a pé e de onibus.
ResponderExcluirNossa!! Estou quase na mesma.Quase, pretendo conseguir habilitar - ainda- já tentei umas 4 vezes,carro - agora estou com moto- pirei de vez...O Pior não é o medo; meu caso vai além.Irrito-me com os erros e irresponsabilidades, falta de gentilezas, respeito ao próximo. E ainda tenho um grande problema.Todas as vezes que tentei, tinha dinheiro para pagar, mas não sobrava tempo - ansiosa d+ fazia tudo certo e no dia, metia os pés pelas mãos.Hoje após 5 anos da última tentativa, não tenho emprego, dinheiro, tempo etc...Que desafio está sendo para mim.Consiguirei eu superar tudo isso? Preciso Mais do que tudo, não só da habilitação, mas também de um veículo...Como conseguir ambos? se nem emprego tenho? rsrsrs. Vamos lá, me restam apenas 3 aulas e meu exame está marcado e, não há tempo nem dinheiro para remarcar. Força, você com certeza consiguirá. Viu? Há casos extremos, piores. Beijos e boa sorte."Se fosse fácil? Não seria para nós".
ResponderExcluirOi Andréia! Estou adorando o seu blog... eu tirei carteira há 3 anos e no início estava dirigindo pra cima e pra baixo sem medo, mas depois de um tempo, dirigir estava me dando um desespero... o trânsito de brasília está cada vez mais terrível, e o fato de pensar em deixar o carro morrer ou fazer alguma outra coisa errada já me dá pânico... estou tentando trabalhar esse lado mas ainda não consegui... será que consigo voltar a dirigir???
ResponderExcluirOlá, consegui tirar a carteira de motorista, agora com 42 anos, sempre tive medo interno, me parlizava por dentro e as pernas tremiam muito só em pensar... Fazem 02 mese que estou aos pouco conseguindo superar. Começei levando os meus fihos na escola e voltando rápido para não pegar o trânsito, moro há 10 minutos da escola deles. Mas para mim foi uma vitória! Moro numa cidade do interior da Bahia, porém aqui tem a sindrome do carro, moto por todo lado. As pessoas não vão a padaria senão de carro.E quando o carro morria eu dizia passem... Ai era aquela piada: Comprou a carteira? Eu respondia: - Claro e caro!! Tem que pagar lado, teste, auto-escola... Conseguia ligar o carro e saia sorrindo e buzinando... Só Deus sabe como me tremia e meu rosto vermelho de vergonha. Mas para o meu cérebro mandava o comando certo. Não me abati com esses comentários. Vou sempre pela faixa da direita, no máximo 40 km, sinalizando. Hoje já peguei até um pouco de trânsito, até passei na entrada da cidade, pois moramos numa ilha chamada Paulo Afonso. O que me revolta não são as piadas mas a forma como homens e mulheres se comportam quando estão em seus veiculos de transporte (carro e moto). Parecem possuidos por um ser supremo, somente eles sabem das coisas. Um vexame!! Mas enfim, estou conseguindo vencer o meu medo e meus limites. Sei que irá consegui: aprendi que levar as coisas na boa, no bom humor é a melhor maneira de enfrentar o trânsito e seus seres superiores que já nasceram motorizados!!!!!!!!!! Josineide Vilar
ResponderExcluirOla Andreia meu nome é Carol tenho 28 anos e a minha maior vontade e de tirar a CNH mas tenho medo tambem de dirigir quando penso no transito naquele monte de carros e o medo de errar. Boa Sorte e supere os seus limites.
ResponderExcluirOlá! Estou acompanhando há alguns dias a sua persistência em perder o medo de dirigir, e, confesso, que em algumas situações me identifiquei muito com você!!! Tirei a minha habilitação há alguns meses e estou começando a dirigir agora... É muito difícil ganhar confiança em nós mesmas... Mas é preciso lutar e persistir.... Meus Parabéns por sua persistência e força de vontade...
ResponderExcluirOi,tenho a habilitação há 34 anos.Dirigi durante 24 anos e faz 10 anos que não pego no volante.Se alguém fala para eu dirigir entro em pânico. Sei que o meu medo é psicológico, mas não consigo superar.Tudo começou quando meus dois últimos filhos tiraram a habilitação.Sempre que saíam comigo começavam a me corrigir(e as primeiras noções de volante deles fui eu que dei),então comecei a largar o carro nas mãos deles. Eu dizia:" já que não sei dirigir peguem vocês"!
ResponderExcluirFoi o meu erro. Nunca mais consegui pegar no volante,e quero voltar!
puxa,tenho cnh,há sete meses e não andei um passo como motorista,me azararam tanto para eu não aprender e ficarem com o meu carro que eu fiquei parcialmente bloqueada e só dirijo ás cinco da manhã,a noitinha e isso m,nos finais de semana.Me apavoro quando vem um carro me seguindo e quando eles buzinam;me sinto ferida,esmagad...
ResponderExcluirgostaria que o acompanhamento fosse enviados para fatima.nascimento@oi.com.br
ResponderExcluirEu tenho sede e fome de realmente dirigir;levar meu irmão ao médico(ele teve AVC)
ResponderExcluirir aos supermercados,ir trabalhar,ir á praia...
Nossa! Sei como é tudo isso. No meu caso tem um agravante: sou homem. E se espera que todos os homens dirijam bem.
ResponderExcluirPois bem, fiz o curso no CFC, passei em todos os testes de primeira e consegui tirar minha carteira de motorista em 2003, aos 23 anos (bastante velho, admito). Todo esse sucesso seria o suficiente para me dar confiança e continuar dirigindo, mas não foi o que ocorreu. Desde então só peguei num carro uma única vez. Foi o carro da minha esposa. Não aconteceu nada que justifique o meu medo de dirigir, consegui trazer o carro inteiro de volta para casa. Ainda assim, tenho medo.
Hoje, por exemplo, aproveitando que é domingo, trânsito bem tranquilo, pretendia dar umas voltinhas com o carro. Cheguei a pegar as chaves e abrir a porta do apartamento e, de repente, começo a me tremer todo, o coração parecia que sairia pela boca. Dei meia volta e entrei no apartamento, não tive coragem de dirigir.
Qual a razão de tanto medo? Seria o medo de errar? Sim, é isto mesmo. Por mais que eu saiba que errar faz parte do aprendizado, isso não ajuda, pois tem que ensinar isso aos outros motoristas também. Parece que eles já nasceram sabendo dirigir e se irritam com quem está aprendendo. Eles avançam sinal vermelho e o barbeiro somos nós. Eles superam o limite de velocidade e o barbeiro somos nós. A coisa é particularmente séria aqui em salvador-BA, a cidade com os motoristas mais mal educados da face da Terra.
Acho que o problema todo foi ter demorado a aprender a dirigir. O negócio e aprender desde pequeno. Todas as pessoas que conheço que aprenderam dirigir aos 10, 11 ou 12 anos são excelentes motoristas. Dirigem como se estivessem escovando os dentes. Por isso eu digo: meu filho, que nasceu mês passado vai aprender dirigir tão logo suas pernas alcancem os pedais.
Ola! estou na mesma situação já tirei minha habilitação a 2 anos,desde então nunca sai sozinha e quando saio com meu esposo fico muito mal, muito insegura.... Moro em floripa se tiver alguma clinica aqui por favor me avisam..
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